Quando não existe o filme a gente lê a história!

Quando não existe o filme a gente lê a história!


Para os adolescentes do Metanoia da IBE e quem mais quiser ler

Setembro de 2023


Vocês gostam de filmes de ação, filmes de espiões? Um personagem famoso dos filmes de ação e espiões é o agente 007, o James Bond. Eu gosto muito. Desde a minha infância curto demais os filmes do 007. Eu até tenho uma gravata do 007 que ganhei do Pr Peter, um querido professor meu do Seminário. Se vocês quiserem ver eu a levo na igreja um dia.



Vocês sabiam que quase todos os filmes do 007 são baseados em livros escritos pelo criador do personagem, Ian Fleming? Sabiam que Ian Fleming foi um espião e é baseado em suas experiências e aventuras que ele criou o 007?


Então, se as aventuras do 007 eram livros antes de serem filmes, você já pensou em ler uma cena de ação ao invés de assistir o vídeo da mesma cena? Eu estou lendo um dos livros do 007 chamado A Essência do Mal, de 2008 (vocês não eram nascidos ainda! 😂). Quem me emprestou foi o Samuel do Pr Ademir e da Pra Gislaine. Esta aventura só existe em livro, acho que nunca virará filme. Então não tem jeito: tem que ler mesmo!


Eu copiei abaixo para vocês uma cena em que o 007 é perseguido por 2 motos. Acho que vocês vão gostar.


Ah! Você já sabe: quando aparecer um número na frente duma palavra, vai lá no fim do arquivo e leia a explicação do que significa.


Grande abraço!


Pr Maurício Vila


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A essência do mal. Uma história de James Bond. Sebastian Faulks [17]. 2008. Final do cap 3.



Depois de deixar Hammersmith [1] e entrar na Avenida Great West [1], Bond notou uma motocicleta pelo espelho retrovisor e, instintivamente, pisou no freio. Esses guardas motorizados pareciam estar em todos os lugares, e seu carro, egocêntrico e chamativo, era um ímã natural. A moto, entretanto, pareceu reduzir a velocidade ao mesmo tempo. Sem sinalizar, Bond virou abruptamente para a esquerda na rotatória e tomou a estrada para Twickenham [2], longe do principal fluxo de tráfego que deixava a capital na hora do rush [3]. Bond reduziu a marcha e pisou no acelerador para avançar o primeiro sinal vermelho antes de checar o espelho novamente. A moto ainda estava lá.


Bond sentiu uma mistura de irritação e estímulo. Era ofensivo ser perseguido dessa forma amadorística quando estava a caminho de lidar com um problema tão grande e perigoso como o representado pelo Dr. Julius Gorner [4]. Logo antes de Chiswick Bridge [5], virou o volante para a direita. Desta vez ele avaliara bem o curso, e os pneus aderiram à estrada. Bond checou os espelhos uma vez mais e sentiu o primeiro tremor de ansiedade. Não apenas uma, mas duas motocicletas o seguiam agora- duas grandes BMWs [6] - e nenhum carro podia ser mais rápido que uma moto. Os motociclistas baixaram as cabeças e fizeram um movimento circular com os punhos. O rugido dos escapamentos gêmeos bávaros encheu [7] a tranquila rua Kew.


Em poucos instantes, as motos estavam uma de cada lado do Bentley [8] de Bond. Agora, tinha de levá-las a sério. Desejou estar no Aston Martin [9], com o compartimento embaixo do banco para um Colt .45 [10]. Não sabia com certeza se a sua Walther PPK [11] teria potência para fazer o trabalho a essa distância, mas não havia alternativa. Antes que sacasse o revólver do coldre [12], ouviu um barulho alto quando o vidro da janela do passageiro foi estilhaçado por uma bala [13]. Pelo espaço aberto [14], Bond atirou uma vez, depois pisou fundo no freio. Frear era uma coisa que os carros faziam mais rápido que as motos, e, com isso, Bond conseguiu dar uma olhada rapidíssima no segundo motociclista, que atirou nele e errou por pouco. Bond se inclinou sobre o banco do passageiro e, pela janela quebrada, atirou com a mão esquerda, e viu o piloto tombar para a frente, atingido em cheio no ombro esquerdo. A barulhenta moto alemã escorregou por baixo de seu corpo, lançando um chuveiro de faíscas na pavimentação.


O primeiro motoqueiro estava lado a lado com ele, e Bond viu aproximar-se o fim da rua, que desembocava em um cruzamento com uma curva de 90 graus à direita. Estimou em 80km/h mais ou menos a velocidade de ambos agora, e precisava reduzir a marcha para completar a manobra que tinha em mente. Viu o piloto erguer a mão esquerda para atirar, ficando vulnerável [15] por um momento, com apenas uma mão no guidom e sem controle da embreagem.


Bond meteu o pé no freio, virou o volante para a direita, depois puxou o freio de mão. Não era uma alavanca comum sob o painel, mas um modelo exclusivo posicionado atrás do câmbio. Com um torturante grito dos pneus e um cheiro de queimado, o grande carro sacudiu-se violentamente e lançou a grande carroceria redonda em cheio na roda da moto BMW. Bond sentiu o impacto da moto quando ela bateu e depois desabou, mandando o piloto de pernas para o ar para o cruzamento à frente. Quando o homem caiu de costas, sua pistola disparou, impotente.


Bond olhou para o relógio para ver se chegaria a tempo de pegar o voo, pôs o carro em primeira novamente e tomou a direção norte, calmamente, pelas ruas de Kew, onde as pessoas que tomavam trens e ônibus para o trabalho voltavam às suas casas. Refazendo o caminho para a Great West Road [1], percebeu que a frase favorita de René Mathis lhe viera à mente: "Ça recommence" [16], pensou. Vai começar de novo.


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[1] Nome de ruas ou avenidas de Londres.


[2] Um bairro longe do centro da cidade na época da história, nos anos 1960 (nem seus pais eram nascidos ainda, mas seus avós tinham uns 20 anos mais ou menos)


[3] Hora do rush, a hora de trânsito mais movimento numa cidade, a hora em que estudantes e trabalhadores estão entrando ou saindo das escolas, escritórios, lojas e fábricas.


[4] O nome do vilão desta aventura. Ele tem a mão esquerda defeituosa, parecida com a de um macaco, grande e peluda. Ele sempre usa uma luva branca para esconder a mão.


[5] Uma das muitas pontes sobre o rio Tâmisa que atravessa a cidade de Londres, como o rio Cuiabá que divide Cuiabá e Várzea Grande.


[6] Uma marca alemã de motos e carros, muito famosa, muito chique e muito cara. Quem curte carros e motos é apaixonado pela BMW.


[7] O grande carro do 007 tinha escapamento duplo e grande, que ele mandou instalar, diferente dos escapamentos originais.


[8] É a marca do carro do 007. É lindo, grande, estiloso e potente. Pesquise na internet pra ver.


[9] É o carro que o 007 costuma usar em suas aventuras. É um carro super equipado com metralhadoras, foguetes, lança-chamas e outras coisas bem legais. Não era o carro do 007, era do Serviço Secreto Inglês. O 007 usava quando estava em missão.


[10] É uma arma, um revólver que ficava escondido debaixo do banco do carro de trabalho do 007. Não era o carro que ele estava dirigindo na hora.


[11] É a arma, o revólver que o 007 mais gosta de usar. Pequena e discreta, ninguém a percebe debaixo dos paletós e blazers que ele usa.


[12] Coldre é o suporte de couro, um tipo de cinto, usado para carregar a arma na cintura ou perto do ombro, quase debaixo do braço.


[13] Estilhaçado pela bala do inimigo que estava numa das motos.


[14] O vidro da porta do carro quebrado.


[15] Vulnerável, o motoqueiro estava em posição desfavorável porque estava com a arma numa mão e com a outra tinha que pilotar a moto.


[16] Uma frase em francês. O 007 estava indo para Paris, França, para encontrar-se com o investigador René Mathis.


[17] O criador do 007 morreu em 1962 (seus pais nem eram nascidos ainda) e os novos livros são escritos por outros autores. Sebastian Faulks é um destes autores que escreveu como se fosse Ian Fleming, usando o estilo de Ian Fleming.


Comentários

Lucas Vila disse…
Escuta só os você ver... Ou melhor, leia só pra você ver.

Muito bom!

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